Já dizia Platão, alguns séculos antes da era cristã: “A música é valiosa não apenas porque cria requinte de sentimento e caráter, mas também porque preserva e restaura a saúde”.
Além de ser uma manifestação artística na busca do belo, de ser uma forma de expressão e comunicação do homem consigo mesmo, com a sociedade e com o universo, a música é também terapêutica. O uso da música como agente para combater enfermidades é quase tão antigo quanto a música em si. As sociedades primitivas davam, com freqüência, maior apreço aos cantos mágicos do que às ervas medicinais para curar os seus doentes (PORTNOY, in TAME, 1984). Acreditava-se que a música era capaz de renovar a divina harmonia e ritmo do corpo, das emoções e do espírito do homem. Dos escritos chegados até nós deduzimos que a música era utilizada como instrumento terapêutico pelos antigos chineses, hindus, persas, egípcios e gregos. Na antiga Grécia, a música era utilizada eficazmente contra ferimentos, doenças e pestes e extensamente empregada para curar distúrbios emocionais.
Até a Segunda Guerra Mundial, a música era usada como um sedativo, algo “bom para a alma” e edificante. Após esse período, a música começou a ser empregada de modo mais específico. O músico, requisitado pelos hospitais, questionado pelos psiquiatras e duvidando, às vezes, de suas próprias crenças e procedimentos, passou a examinar com maior profundidade o uso da música e a se esforçar para avaliar seus resultados. Em pouco tempo, o exame das práticas e conquistas fez surgir a necessidade do treinamento formal de “músico-terapeutas”. Foi assim que, em 1946, foi fundado o primeiro curso acadêmico de Musicoterapia, na Universidade de Kansas (USA) e, a partir daí, muitos outros foram surgindo no mundo todo (GASTON, 1982).
Assim, a Musicoterapia instalou-se no século XX como ciência e profissão e passou a receber dos estudiosos várias definições: especialidade paramédica que explora a relação entre a música e a emoção dentro de um processo psicoterapêutico, produzindo efeitos terapêuticos, psicoprofiláticos, e de reabilitação no indivíduo e na sociedade (BENENZON, 1988); pode ser definida como a abertura dos canais de comunicação do indivíduo com o seu meio social, através do som, do ritmo e do movimento, permitindo ao indivíduo vivenciar a música não apenas no seu aspecto estético ou nas suas dificuldades técnicas mas enquanto linguagem (DUCORNEAU, 1984); uso controlado da música no tratamento, educação, treinamento e reabilitação de crianças e adultos que sofrem de desordens emocionais físicas ou mentais (ALVIM, in PRATT & HESSER, Editors, 1989).